sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A devoção do Coração Imaculado de Maria - Parte III

A glorificação da Rainha dos Corações

      

             Em Paray-le-Monial, Jesus mostra o Seu Coração Sagrado circundado de espinhos. Em Fátima, a Virgem tem em Seu Coração esta mesma coroa de espinhos.  Este suplício, nós sabemos, foi um escárnio feito na Paixão com sumo desprezo para com a Sagrada e Divina Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso nos leva a considerar a participação especialíssima que teve e tem a Santíssima Virgem na Redenção do gênero humano, como Corredentora, e como daí se deriva a fundamental importância de que Ela reine nos corações para que reine plenamente o Coração de Jesus. 
            Na encíclica Quas Primas sobre Cristo Rei, o Papa Pio XI lembra o anúncio do Anjo à Virgem como primeira menção da Realeza de Nosso Senhor no novo Testamento: "Bastará lembrar apenas a mensagem do Arcanjo à Virgem, a anunciar-lhe que dará à luz um Filho; a este Filho, Deus outorgará “o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e seu reino não terá fim” (Lc 1,32-33)" E mais a frente o Sumo Pontífice diz: "Mas haverá, outrossim, pensamento mais suave do que refletir que Cristo é nosso Rei não só por direito de natureza, mas também a título de Redentor? Lembrem-se os homens esquecidos de quanto custamos a nosso Salvador: “Não fostes resgatados a preço de coisas perecíveis, prata e ouro, mas com o sangue precioso de Cristo, como de cordeiro sem mancha nem defeito” (1 Ped 1,18-19). Já não nos pertencemos, pois que deu Cristo por nós “tão valioso resgate” (I Cor 6,20). Até nossos corpos são “membros de Cristo” (I Cor 6,15)." É, portanto, como dissemos na postagem anterior, com a natureza humana que recebeu da Santíssima Virgem que Ele vai conquistar, como nosso Redentor, um novo direito de reinar sobre nossos corações e foi precisamente por meio dEla que Ele quis vir reconquistar o reino de nossos corações submetidos outrora, pelo pecado de nossos primeiros pais, à cruel escravidão do demônio. Mas a Santíssima Virgem não cooperou somente dando a natureza humana a Jesus Cristo, senão que também cooperou procurando o nosso bem sem olhar para Sua própria dor, incansavelmente e heroicamente. Compreendendo a sede do Coração de Seu Filho pela salvação das almas e que glória isso traria a Ele, a Santíssima Virgem elevou a chama de Sua Caridade até o Céu e, juntando o zelo de todos os Apóstolos e missionários de todos os tempos, não igualariam, nem de longe, o zelo do Coração de Maria por cooperar com Seu Filho em nosso resgate. Nisso empregou cada momento da Sua existência, cada lágrima, cada súplica, todas as Suas forças. Assim o testemunham os Papas: 
    "A Virgem dolorosa compartilhou com Jesus Cristo a Obra da Redenção." Pio XI, C.A. Explorata Res - 1923
     "Enquanto sofria e quase morria junto com Seu Filho sofredor e agonizante, renunciou a Seus direitos maternos sobre Seu Filho para salvação do homem, e, para satisfazer a justiça de Deus, O imolou até onde foi possível, de modo que podemos corretamente dizer que Ela redimiu ao gênero humano junto com Cristo." Bento XV, C.A. Inter Sodalicia - 1918
      "É impossível pensar em ninguém que tenha feito ou vá fazer no futuro tanto como Ela para reconciliar aos homens com Deus." Leão XIII Enc. Fidentem - 1896
    "E por esta comunhão de vontade e de dores entre Maria e Cristo é que Maria mereceu converter-se com toda legitimidade em reparadora do orbe perdido". Pio X, Excellentia Virginis Mariae. 

           Temos por bem entendido até agora que o Coração da Virgem, é o mais interessado em que reine o Sagrado Coração de Jesus, Seu Filho; e que de Seu Coração podemos dizer, com a devida proporção, o que disse Jesus Cristo do Seu próprio Coração: "Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor".
       Mas Contemplemos agora particularmente o momento mais doloroso para o Coração de Maria, a morte do Seu Filho único no Calvário, e como Nosso Senhor patenteia a união indissolúvel que há entre o Seu Coração e o de Sua Mãe Santíssima. 

            Após assistir o indizível suplício de Seu Filho inocente e mais amado do que todos os bens do mundo, Ela o vê soltar o último suspiro. Está tudo consumado, o Coração Sacratíssimo de Jesus já não bate. Mas ali de pé continua Sua Mãe, com o Coração entre a vida e a morte, em agonias terríveis e na mais amarga soledade. Os carrascos já terão ficado satisfeitos de infligir sofrimentos a esta pobre Mãe? Não. Eis que Ela vê subir ao Calvário um tropel de soldados e um deles se dirige ao Seu Filho já morto. Podemos imaginar a angústia do Coração de Maria: vão infligir um novo ultraje ao Seu querido Filho? Vendo que Ele já estava morto, o soldado crava-Lhe a lança no lado e transpassa com ela o Coração de Jesus. Aqui, o mistério: o Bom Jesus já não pode sentir esta ferida, mas sim a podia sentir o Coração de Maria, e a sentiu profunda e fortemente, mais do que se fosse infligida a Si mesma. O Pe. Anchieta descobre-nos o segredo por trás desse novo tormento  em seu poema à Virgem Maria onde diz: 
"Ó ferida que abriste com a lança do amor, através do peito divinal, estrada larga para o Coração de Cristo!
Prova de inaudito amor com que Ele a Si nos estreitou: porto a que se acolhe a barca na procela!
A ti recorrem os perseguidos do inimigo fero, medicina pronta a toda a enfermidade!
Em ti vai sorver consolação o triste e arrancar do peito opresso a carga da tristeza.
Não será frustrada a esperança do pobre réu que, depondo o temor, entra nos palácios do Paraíso, por tua via.
Ó morada da paz! Ó veio perene da água viva que jorra para a vida eterna!
Só em Ti, ó Mãe, foi rasgada esta ferida, só Tu a sofres, somente Tu a podes franquear.
Deixa-me entrar no peito aberto pelo ferro e ir morar no Coração de meu Senhor; por esta estrada chegarei até às entranhas deste amor piedoso; aí farei o meu descanso, minha eterna morada."
         Então somente o Coração de Maria, que sofreu tão cruelmente esta ferida, é que pode franquear a entrada no Coração de Jesus. E o que é entrar no Coração de Jesus senão submeter-se inteiramente ao império de Seu amor? Logo, é preciso que primeiro os corações se submetam de todo a Ela, ao Seu amor, e Ela é Quem vai estender em todos o Reino do Coração de Seu Filho. Está em Suas mãos as chaves desse reino.
         Tendo trabalhado junto com Ele tão arduamente para conquistar para Ele a glória da salvação do gênero humano, Nosso Senhor teve por bem associá-La a Si em Seu reinado, como legítima Rainha de tudo que Ele conquistou. É o que diz o Papa Pio XII: "No cumprimento da obra da Redenção, Maria Santíssima esteve, em verdade, estreitamente associada a Cristo (...) Assim como Cristo pelo título particular da Redenção é nosso Senhor e nosso Rei, assim também a Bem-aventurada Virgem é nossa Senhora e Rainha pela maneira única com que contribuiu para nossa Redenção subministrando Sua Carne a Seu Filho, oferecendo-O voluntariamente por nós, e desejando, pedindo e procurando para cada um nossa salvação." Ad Caeli Reginam - 1954. Diante destas verdades, devem se abrasar os corações dos verdadeiros escravos da Virgem para fazer triunfar o Seu Coração Imaculado em si mesmos, pela prática da perfeita devoção a Ela; e em todos os seus dependentes e seus próximos pelo meio que lhes é possível, se não diretamente, ao menos pelo bom exemplo e pela oração.  
            A isto tende a perfeita devoção ensinada por S. Luís de Montfort, que nós temos demonstrado que corresponde à verdadeira devoção do Coração de Maria: 1 - que por amor nos submetamos a Ela inteiramente em correspondência ao Seu amor e trabalhemos por imita-La; 2 - deste entranhado amor nasce a dor por vê-La ultrajada e o desejo de desagravá-La; 3 -  por fim, abrasados  já do calor de Seu Coração Materno, procuraremos por todas formas que Ela reine nas almas a fim de que reine o Coração de Jesus, porque reconhecemos que isto para Ela é Seu maior triunfo, Sua glória e toda Sua alegria. 



"Protesto que quero, de hoje em diante e firmemente, como Vosso verdadeiro escravo, buscar a Vossa honra e obedecer-Vos em todas as coisas. " (Trecho da oração da Consagração total a Ssma Virgem, de S. Luis de Montfort)

            

Coração de Maria, venha a nós o vosso Reino para que reine logo o Sacratíssimo Coração de Jesus! 

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