Retirado do livro "Vida Mariana" - ano de 1910
"Sairá uma vara da raiz de Jessé e uma flor brotará dessa vara." (Is 11,1)
"Virgem, em vosso fruto a alma espera.
Cristo é o fruto e dessa flor redunda;
Sem Cristo, não há salvação; sem flor, não há fruto." (Lope de Veja)
O Princípio e o Fim
Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, deve ser o fim último de nossas devoções, caso contrário, elas serão falsas e enganosas. Jesus Cristo é o "Alfa e o Ômega, o princípio e o fim" [2] de todas as coisas. Nós só trabalhamos, como disse o Apóstolo, para tornar todo homem perfeito em Jesus Cristo, "pois é nEle que habita toda plenitude da Divindade" [3], bem como todas as plenitudes de graças , virtudes e perfeições. Somente nEle fomos abençoados com toda bênção espiritual. Ele é o único Mestre que nos deve ensinar, o único Senhor de Quem devemos depender, a Cabeça a Quem devemos nos unir. Só Ele é o modelo a que devemos nos conformar, o Médico que nos curará, o Pastor que nos dará o alimento. É ainda o Caminho que devemos trilhar, a única Verdade que devemos crer, a única Vida que nos vivificará. Jesus Cristo é, enfim, o nosso tudo em todas as coisas, o único que nos deve bastar, pois "abaixo do céu nenhum nome (senão o de Jesus) foi dado aos homens, pelo qual devemos ser salvos." [4]. Todo fiel que não estiver unido a Ele, como o galho ao tronco da videira, cairá, secará e será, por fim, atirado no fogo. Se estivermos em Jesus e Jesus estiver em nós, não teremos condenação a temer. Nem os Anjos do céu, nem os homens da terra, nem os demônios do inferno, nem criatura alguma nos poderá causar dano, porque ninguém nos poderá separar da caridade de Deus que está em Jesus Cristo. "Por Jesus Cristo, com Jesus Cristo e em Jesus Cristo, podemos fazer tudo o que devemos, isto é, dar toda a honra e glória ao Pai, em união com o Espírito Santo, tornar-nos perfeitos, sermos para o nosso próximo um bom odor de vida eterna." [5]
Neste princípio é que se funda a doutrina de São Luís Maria Grignion de Montfort que vamos expor neste livro.
Toda a vida espiritual consiste, pois, em unir-nos verdadeiramente a Jesus Cristo e transformar-nos nEle, de modo que possamos dizer com o Apóstolo: "Para mim viver é Cristo" [6]. "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim." [7]
Em um de seus belíssimos idílios, Verdaguer nos descreve um peregrino que, desolado, corre em busca de Jesus, sem o encontrar na terra coberta de espinhos, nem no céu coberto de nuvens. Entra, então, em uma ermida e aí, como pérola em sua concha, vê o Menino Jesus nos braços de Sua Mãe e, comovido, escreve a seus pés:
"Quem busca o bom grão,
O encontra na espiga.
Quem quer o ouro fino,
O procura na mina.
Quem quer a Jesus,
Que procure a Maria."
Explicando o texto em que o profeta Isaías nos apresenta Jesus Cristo, como uma flor que sai da vara de Jessé, o Padre Diogo de Celada diz que, por essa vara ou haste, devemos subir para colher a flor. A flor colhida por sua haste não desfolha nem murcha. E assim também, quem procura a Jesus por Maria, mais facilmente o encontra e com mais segurança o possui. "Quem quiser o fruto bem formado e maduro, deve ter a árvore que o produz. Quem quiser possuir o fruto da vida que é Jesus Cristo, deve ter a árvore da vida que é Maria." [8] Isso porque, "em todos os lugares onde está Jesus, no Céu e na terra, nos tabernáculos e nos nossos corações, pode verdadeiramente dizer-se que é fruto de Maria, que só Maria é a árvore e só Jesus, o seu fruto." [9]
Aludindo à passagem dos cantares, em que a Esposa vai em busca do Amado, o Abade de Celes pergunta à alma que anseia encontrar Cristo: "Procuras Jesus pelas ruas e praças da cidade e não o encontras? Pois eis que aquela benigníssima Senhora, que conhece muito bem os seus esconderijos, te sai ao encontro e te diz: Ei-lo aqui! Ei-lo ali! E quem melhor do que a mãe pode adivinhar todos os recantos por onde anda o filho, e conhecer as dobras de seu coração, principalmente quando mãe e filho se amam tanto, como a melhor das mães e o melhor dos filhos?"
Almas que clamais com São João da Cruz:
"Procurando meus amores,
Irei por esses montes e ribeiros...",
não vos canseis em subir muitas montanhas. Só na de Sião, naquela Cidade Santa, cujas portas estão sempre abertas para as almas lavadas com o Sangue do Cordeiro; só no horto fechado, onde se recreia e apascenta, com o perfume dos lírios; só na fonte selada, onde se reflete como no mais claro espelho de eterna luz; está Cristo. Ide sempre a Maria que, em Maria, encontrareis Jesus. Pela porta ao Templo; pela escada ao cimo; pelo colo à cabeça; pelo canal à fonte; pela haste à flor.
Assim, com as cores das letras divinas, os Santos Padres nos descreveram a união de Jesus com a Igreja, por meio de Maria. E junto a essas figuras, deveriam ser escritas aquelas dulcíssimas palavras que, segundo a venerável Madre Ágreda, ao partir para o céu, Nosso Senhor deixou como testamento a Seus apóstolos: "Assim como vos tenho dito que quem vier a Mim, verá Meu Pai, o que Me conhece, o conhecerá, agora vos asseguro que quem conhecer Minha Mãe, Me conhecerá, quem Lhe obedecer, Me obedecerá, e quem a ouvir, Me ouvirá. Ofender-Me-á quem a ofender, e Me honrará quem a horar. Todos vós a tereis por Mãe, superiora e cabeça. E o mesmo farão vossos sucessores. Ela responderá a vossas dúvidas e resolverá vossas dificuldades. Nela Me encontrareis sempre que Me procurardes."
Nem todos os meus leitores acreditarão que Nosso Senhor disse estas palavras. Nem têm mesmo obrigação de crer nelas. O que é certo, porém, é que a Igreja procede como se as tivesse ouvido dos lábios de Jesus. Que outra coisa está a clamar a sua liturgia? Por que começa com a Ave Maria todas as horas do ofício divino, senão para nos ensinar que a Virgem Santíssima é a porta por onde devemos entrar para falar com Cristo? Por que invoca seu Nome, nos momentos mais solenes da Missa, senão para que ofereçamos o incruento sacrifício unidos a Maria, assim como, unido a Ela, Jesus ofereceu o sacrifício cruento do Calvário? Por que tantas festas da Santíssima Virgem? Seria idolatria obsequiar a Nossa Senhora com mais festas e orações que a Seu Filho, se não houvesse entre ambos essa admirável união, em que o Senhor se compraz nos obséquios tributados à Sua Mãe.
Não há nada de estranho nisso, pois o mesmo sucede com os homens que muito se amam. Um carinho feito a um filho, um serviço prestado à esposa, não agradam mais a um pai amoroso que as atenções talvez maiores que a ele fossem tributadas?
Calem-se os hereges, escrupulosos só para com a Santíssima Virgem. Deixem que a Igreja, acostumada a procurar Jesus em Maria, a confunda de certo modo com Ele, como a fonte se confunde com o rio. Deixem que Ela, renovando diariamente o belo canto que, à beira do Minho, entoou São Pedro Mezonzo, a chame "sua vida, doçura e esperança.". E sobretudo, deixem que lhe peça que nos "mostre Jesus, bendito fruto de Seu ventre."
Continua...
_______________________________
Notas:
[2] Ap 1, 8
[3] Cl 2, 9
[4] At 4, 12
[5] Tratado da Verdadeira devoção - São Luís Maria Grignion de Montfort
[6] Fl 1, 21
[7] Gl 2, 20
[8] Tratado da Verdadeira devoção - São Luís Maria Grignion de Montfort
[9] São Luís Maria Grignion de Montfort


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Salve Maria!
Muito obrigado por ter prestigiado nosso blog com sua visita!
Não aceitamos comentários maldosos ou contrários a fé Católica, comentários deste tipo serão excluídos e relatados como spam.
Opiniões, críticas construtivas, sugestões, perguntas e testemunhos, iremos responder assim que der. Agradecemos a atenção.
Milícia Regina Angelorum