I. Ainda quando os benefícios que tens recebido de Maria nada lhe houvessem custado, tais e
tantos são, minha filha, que deveriam encher-te de reconhecimento e amor a tão generosa benfeitora. Mas sabes
quanto estes benefícios lhe custaram? Nada menos do que uma vida cheia de trabalhos e dores. Bem sabes que
não poderias ser salva senão por minha paixão, e portanto és tu a causa de tudo o que minha Mãe amorosíssima
padeceu. E quão longo e cruel não foi o seu martírio! Não ignorava o que os profetas de mim haviam escrito:
que um dia seria entregue às mãos dos príncipes e sacerdotes, que seria esbofeteado, escarnecido, flagelado,
crucificado. E tudo isto muito melhor o compreendeu, quando o velho Simeão lhe profetizou a espada de dor
que lhe havia de trespassar a alma. Dize-me, minha filha, que penar, que contínua angústia para o coração de
minha aflita Mãe, pensar que deveria um dia perder-me em meio dos mais cruéis tormentos! Tudo o que em
mim via, tudo o que fazia por mim, antecipadamente lhe renovava a dor da minha paixão e morte. Quando com
seu leite me alimentava, pensava no fel e mirra com que um dia eu havia de ser atormentado; quando em
menino me enfaixava, logo lhe acudiam ao espírito as cordas com que havia de ser amarrado; quando
contemplava meu rosto, parecia-lhe ver a saliva, as bofetadas e o sangue brotando das feridas que os espinhos
haviam de abrir; quando me tomava em seus braços, logo os cravos, que deviam rasgar-me as carnes, a cruz em
que tinha de ser levantado, a enchiam de terror. Oh! Com quanto maior razão do que o rei profeta poderá a
minha amargurada Mãe dizer que sua vida se consumia no sofrimento e seus anos nos gemidos! E tudo isto,
minha filha, por teu amor!
II. E depois, como avaliar tudo quanto minha Mãe sofreu durante a minha paixão! Desde a nossa
última separação, quando dela me despedi para ir afrontar a morte, até a minha ressurreição, o coração de Maria
foi como um mar de tristezas e cruéis angústias. Pensa qual não foi a sua dor, quando a sobressaltou a
tristíssima nova de que eu tinha sido preso, amarrado, arrastado ignominiosamente pelas ruas de Jerusalém,
interrogado nos tribunais, condenado à morte; depois horrivelmente flagelado, posto em paralelo com um
homicida, coroado de espinhos, escarnecido, insultado, ultrajado pela ralé do povo, e finalmente condenado ao
suplício da cruz! Que espetáculo para minha magoada Mãe, quando me viu, curvado sob o peso da cruz e
gotejando sangue, caminhar para o Calvário! No entanto o amor deu-lhe alentos para me acompanhar até à
montanha das dores; ali teve de ouvir as marteladas com que me cravavam os pés e as mãos, viu-me agonisante
sobre a árvore da cruz, amaldiçoado dos homens e como desamparado de meu divino Pai. E Maria inconsolável
não me podia obter o menor alívio e estava condenada a ver-me expirar de dor diante de seus olhos! Ó minha
filha, se tantos sofrimentos recebidos por amor de ti nenhuma impressão fazem no teu coração, que poderá
então comove-lo?
III. Não, minha filha, nunca tu poderás, já não digo reconhecer dignamente, mas nem sequer
compreender o amor que Maria te mostrou no Calvário porque nunca te será possível compreender toda a
intensidade do seu amor para comigo, nem apreciar por consequência toda a extensão da dor que minha morte
lhe causou. Imagina as mais horríveis penas que seja possível sofrer neste mundo, reúne num todos os
tormentos dos mártires, nunca, ainda assim, chegarás a calcular a dor de Maria, porque os mártires achavam
refrigério no próprio amor que os inflamava, e na certeza de que me haviam de brevemente possuir no céu; mas
minha angustiada Mãe que refrigério poderia encontrar para seus males? Sua dor era tanto mais profunda,
quanto mais ternamente me amava, porque, perdendo-me, perdia o seu filho, o seu Deus, o seu amor, o seu
tudo. Ah! Minha filha, queres tu saber o que somente podia consolá-la nesta perda insuportável? Unicamente a
esperança de achar em ti e nos cristãos uns filhos reconhecidos a todos os padecimentos que por ti sofreu. E
serás tão ingrata que lhe recuses a consolação que te pede?
FRUTO
Compadece-te das dores de Maria, e agradece-lhe tantas angústias que por ti sofreu; medita muitas vezes
as suas dores, e acautela-te de lhas renovar com tuas infidelidades. O B. Joaquim Piccolomini, da Ordem dos
Servos de Maria, desde a sua mais tenra mocidade visitava três vezes ao dia uma imagem da Senhora das
Dores, levantava-se de noite para meditar os seus sofrimentos, e aos sábados abstinha-se de todo o alimento por
amor dela. Mas a Virgem mui liberalmente o recompensou durante a sua vida e na hora da sua morte. -Reza
hoje sete Padre Nossos, sete Ave-Marias e sete Glórias, em comemoração das dores de Maria Santíssima.
AFETOS
Como não nos compadeceremos das vossas dores, ó Mãe aflita! Como poderemos deixar de vos amar,
tendo vós sofrido tanto por nós? E todavia, qual tem sido o meu procedimento? Desgraçada de mim! Em vez de
vos testemunhar o meu reconhecimento pagando-vos amor com amor, o que até aqui tenho feito tem sido
agravar com minhas infidelidades a causa da vossa dor. Ah! Virgem misericordiosíssima, perdoai-me a minha
passada ingratidão, e gravai tão profundamente em meu coração a lembrança de vossas amarguras, que nunca
cesse de vos amar e de pensar em vós. Ajudai-me, socorrei-me, para que daqui em diante não aflija mais o
vosso coração, com o ofender a meu Deus; e fazei que até a morte leve com paciência as cruzes que Ele se
dignar enviar-me em satisfação de meus pecados. Assim seja.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
"Ó Mãe! Ó abismo de amor! Obtende-me a graça de sentir vivamente a amargura de vossas dores, para que
misture com as vossas as minhas lágrimas."
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