segunda-feira, 30 de maio de 2022

Regra de vida dos escravos de Nossa Senhora - Pe. Nazário Pérez



 Regra de vida do escravo de Nossa Senhora
(Pe. Nazário Pérez, SJ) 
        Como já indicamos, convém que durante o retiro que precede a Consagração, estudemos em particular a escravidão mariana em relação a cada uma das nossas ocupações. Recapitularemos aqui as principais. Cada um poderá modificar, segundo seu gênero de vida e grau de perfeição em que se encontre, as aplicações particulares que fizermos. Nem todos poderão realizar desde o princípio este plano de vida, mas poderão tomar o que mais lhes servir. Parecerá difícil a alguns, naturalmente, praticar tantas minúcias. Tomando-se tudo ao pé da letra e querendo se fazer tudo de uma vez e à força de trabalho, será difícil mesmo. Entretanto, desde que a alma fique embebida da ideia da santa escravidão, será muito fácil acostumar-se suavemente a essas práticas e a outras semelhantes.

        - Ao despertar
        "O Nome de Maria desprenda os nosso lábios", como disse um santo Padre. A primeira coisa que, ao despertar, atravessa a mente de quem fica entusiasmado por uma pessoa ou ideia, é a sua lembrança. Os verdadeiros escravos de Maria que adormecem com o pensamento em sua Senhora, nEla pensam entre um e outro sono, nEla também pensam ao despertar. Adoram logo com Ela a Majestade de Deus, rezando o Magnificat. Pedem a bênção à sua Mãe, a fim de passar santamente o dia. Beijam o Seu escapulário ou lançam ao pescoço Sua correntinha, renovando a doce lembrança da escravidão por amor. Levantam-se, com o entusiasmo de quem voa a pelejar por sua Rainha.
        "Ao lavar-me, - dizia o Padre Lombaerde -, rogo a Maria que me purifique de todas as minhas faltas: que purifique a minha alma para que eu seja digno de comparecer diante de Nosso Senhor e de me aproximar do sagrado Altar.". 
        "Eu, - dizia M. Olier -, não me atrevo a estrear nenhuma peça do vestuário: hábito, chapéu, etc., sem consagrá-la à Santíssima Virgem. E lhe rogo que não permita que, enquanto a usar, tenha a desgraça de ofender a Seu Filho Santíssimo"
        No oferecimento das obras, convém renovar a Consagração. Muito própria para isso é a fórmula abreviada, podendo também servir a oração do Padre Zucchi ou alguma jaculatória. (Essas orações e jaculatórias serão escritas mais adiante). 
        O que mais convém fazer, no oferecimento das obras, e o modo como fá-las-ão os escravos de Nossa Senhora, vêm indicados nesta jaculatória: "Adoramos, agradecemos, suplicamos e consolamos, com Maria Imaculada, o Sacratíssimo e amabilíssimo Coração de Jesus". 

        - Exame particular
        Recordemos, antes de tudo, a doutrina de Santo Inácio: o exame particular é formado por três tempos e dois exames diários.
        O primeiro tempo é pela manhã. Logo que levantamos, lembremo-nos do pecado ou defeito particular do qual nos queremos emendar.
        O segundo tempo é depois do almoço. Começaremos pedindo a Deus a graça para nos recordarmos das vezes que caímos neste pecado ou defeito particular e para nos emendarmos dele no futuro. Depois faremos o primeiro exame. Pediremos, então, a nós mesmos, conta exata do ponto especial sobre o qual resolvemos corrigir-nos e reformar-nos. Percorreremos, por conseguinte, todas as horas da manhã, dividindo-as em espaços de tempo, segundo a ordem das ações, desde a hora de levantar até o exame presente. Depois serão marcados na primeira linha de um livrinho próprio tantos pontos quantas vezes caímos no pecado ou defeito particular. E, por fim, tomaremos novamente a resolução de nos emendarmos, do primeiro ao segundo exame.
        O terceiro tempo é depois do jantar. (Faz-se o exame como explicado acima, mas agora examinando a partir do último exame feito). E marcaremos sobre a segunda linha tantos pontos quantas vezes caímos no dito pecado ou defeito particular de que nos queremos corrigir.
        Seguem-se quatro adições, cuja observância nos ajudará a corrigir-nos mais prontamente do pecado ou do defeito do exame particular.
        Primeira adição - Sempre que cairmos no pecado ou defeito do exame particular, ponhamos a mão no peito, excitando-nos interiormente a dor. Isso poderá ser feito mesmo na presença de muitos, sem sermos advertidos.
        Segunda adição - A primeira linha do livrinho indica o primeiro exame; a segunda, o segundo. Observaremos, portanto, à noite comparando a primeira e a segunda linha, se houve emenda do primeiro para o segundo exame.
        Terceira adição - E comparar o segundo dia com o primeiro; isto é, os dois exames do dia presente com os dois do dia precedente; e ver se houve emenda de um dia para outro.
        Quarta adição - Comparar igualmente uma semana com outra e ver se na semana que termina o progresso foi mais notável que na semana precedente.  (Entenda-se que isto é só para garantir que não afrouxaremos no combate aos defeitos, e não para que nos sintamos orgulhosos de ver quanto progresso fazemos. Porque todo progresso e toda virtude vem da graça de Deus e a Ele se deve a honra por isso).
        Vejamos agora como se pode aplicar o exame particular à prática interna da santa escravidão, em seus diversos graus. Aconselha-se, com muita razão, que os principiantes empreguem, antes de tudo, o exame particular para combater o vício dominante. Também se aconselha que se aplique, em geral, o exame às virtudes mortificativas antes que às unitivas.
        Desta excelente regra geral provém o engano de muitas pessoas que não julgam conveniente fazer o exame sobre a escravidão, antes de terem vencido todas as suas paixões. É muito difícil mesmo, acostumar-se à prática interna da consagração sem exame particular. Daí resulta, pois que nunca entram nela, senão muito imperfeitamente  ou pelo menos se privam, durante muito tempo, de seus frutos. É verdade, porém, que, sem ter as paixões mortificadas, o acostumar-se à união com a Santíssima Virgem, poderia induzir à soberba ou pelo menos traria pouco fruto. Isso, porém, seria contrário à escravidão, pois ela consiste essencialmente na abnegação da vontade. E, se ela conduz ao gozo da presença sensível e amorosa, não é, ordinariamente pelo menos, senão depois de união seca da vontade e uma fé pura. Se fizermos, ao mesmo tempo, o exame sobre a paixão dominante e sobre a santa escravidão, tudo se arrumará. Isso não quer dizer que se faça exame sobre as duas coisas, pois então deixaria de ser particular. Far-se-ia o exame de uma só, a virtude que se deseja alcançar, baseada no espírito da santa escravidão. Assim, por exemplo, uma pessoa que se impacienta, poderá fazer o exame sobre o não se impacientar. E, quando cair naquela falta, se recolherá interiormente, considerando a mansidão de Maria e se envergonhando de se ver assim diante de sua Senhora. O mesmo se pode dizer de qualquer outro vício. Quando, com o auxílio de Nossa Senhora, se tiverem vencido os principais defeitos, seguir-se-á uma ordem semelhante na aquisição das virtudes. Para fazer, por exemplo, atos positivos de humildade, expressemo-los em jaculatórias, nas quais se excite esta virtude, tais como: "Rogai por nós, pecadores", ou então com os humildes afetos de Maria:  "Eis aqui a escrava do Senhor."
        Logo que forem vencidos os principais obstáculos e se trate de aspirar à perfeição da prática interna, começa-se com o exame para fazer com regularidade certo número de atos, no princípio de cada ocupação importante, aumentando-os pouco a pouco. Começar-se-á a fazê-los, logo depois, não só no princípio, mas de certo em certo tempo, durante as ocupações mais longas. É preciso aproveitar para tratar com Nossa Senhora, todas as breves interrupções no trabalho.
        Quando por este meio nos formos acostumando a viver com Maria, dirijamos o exame a viver em Maria. Para isso, não admitamos pensamentos que não sejam de Deus ou de Maria, ou conforme à sua vontade. Começaremos por afastar os ligeiramente pecaminosos e logo os inúteis. Antes de chegarmos a este exame, será conveniente examinar, durante uma temporada, no fim de cada ação, e em presença de Maria, os pensamentos que se teve. Uma vez que a alma chegue a uma união habitual com Maria, Ela mesma lhe inspirará como deve continuar nesse exame, para aproveitar o máximo desta vida mariana, aumentando a perfeição de suas obras.
        Parece-nos oportuno, completando esta exposição do método de Santo Inácio, com um exemplo de sua vida, que serve de complemento à sua doutrina sobre o exame.
        Conta o Padre Gil Gonzalez Dávila que o santo, em seu exame, andava atrás de uma faltinha que lhe causava pesar. Pedia auxílio a Nosso Senhor para vencê-la. Apareceu-lhe então Jesus Cristo com Nossa Senhora. Como Inácio pedisse perdão, a Virgem lhe afiançou que se emendaria. Mas apesar de toda sua boa vontade e sua energia de caráter, voltou nosso santo padre Inácio a cair na mesma faltinha. Outra vez pediu perdão, e a mesma visão se reproduziu. A Virgem voltou então amorosamente para ele Seu rosto, mostrando um pesar agradável, por ter sido sua fiadora.
        Imaginemos que também para nós, a boa Mãe se torna fiadora, e envergonhemo-nos como Santo Inácio, quando a obrigamos a envergonhar-Se de nós.
        Para não desfalecer, entretanto, recomendamos este exemplo daquele grande Santo que, mesmo sendo um dos que mais se distinguiram por seu constante progresso na virtude, teve essa pequena queda. Dela, sem dúvida, se levantou com nova força tirando maior aumento de virtude. 


        -  Oração mental
        Comecemos elevando o coração a Nossa Senhora, e ponhamo-nos com Ela em presença de Deus. Com uma Ave Maria ou uma estrofe do Ave Maris Stella imploremos o auxílio divino, na oração preparatória. Na composição de lugar, procuremos que sempre entre a Sua imagem. Na meditação dos pontos propostos, dirijamo-nos frequentemente a Ela, perguntando-Lhe: Que devemos pensar sobre a verdade que meditamos? Que consequências devemos tirar dela? Quais as resoluções práticas que nos inspira? E como as levaremos ao fim? Peçamos-lhe em fervorosos colóquios, que interceda junto a Seu divino Filho, para alcançar-nos as graças e virtudes que nos faltam. Dirijamo-nos depois ao Filho e ao Pai, como Santo Inácio nos ensina, alegando em nosso favor o título de escravos de Maria.
        Se nos acostumarmos a andar, durante o dia, em presença de Nossa Senhora, ser-nos-á fácil fazer com que nossa oração respire a uma única ideia e um único afeto, o da santa escravidão, da entrega total de nosso ser a Jesus, por Maria. E ainda que nem atinemos em meditar, nos deteremos diante da Rainha, ora penetrados de respeito a Seus pés, prontos a Seu menor aceno, para obedecer-Lhe, ora gozando de Seu amor, como um menino nos braços de sua mãe.
        Boa ocasião é esta que, como disse Santo Inácio, "não é o muito saber que farta e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas inteiramente". E, ainda que não exista tal gosto e sentimento, senão distrações e secura, repitamos com a vontade os três améns de São Luís Maria Grignion de Montfort (Assim seja, a tudo o que fizestes na terra, quando aqui vivíeis; Assim seja, a tudo o que fazeis presentemente no céu; Assim seja, a tudo o que fazeis em minha alma, a fim de que não haja senão vós a glorificar plenamente a Jesus em mim no tempo e na eternidade) e não nos perturbemos porque a parte inferior da alma se distrai e alvoroça.
        Qualquer que seja o nosso estado de vida espiritual e o nosso modo de oração, por reflexão ou afetos, por contemplação ordinária ou extraordinária, subamos sempre a Deus, por Maria, que é sempre o caminho mais fácil, rápido e seguro. "Ela é a montanha de onde Jesus ensina e sempre mora, onde a alma com Ele se transfigura, com Ele morre, com Ele sobe aos Céus." (São Luís de Montfort). 
        "É meu divino oratório, onde sempre encontro Jesus." (São Luís de Montfort)

        - Comunhão 
        Não precisamos de nossas palavras para explicar o método, pois São Luís Maria Grignion de Montfort mesmo no-lo explica. E nos deixa um modelo da aplicação da prática interna a todos os atos de nossa vida, como aqui vamos fazendo. 
        Antes da comunhão - "  Humilhar-vos-eis profundamente diante de Deus;   Renunciareis a vosso íntimo corrompido e a vossas disposições ainda que vosso amor-próprio vo-las faça parecer boas;  Renovareis vossa consagração, dizendo: “Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt: Sou todo vosso, minha querida Senhora, com tudo que tenho”;  Suplicareis a esta boa Mãe que vos empreste seu coração, para, com as mesmas disposições, receberdes seu Filho. Fareis ver a ela, que importa à glória de seu Filho não ser introduzido num coração tão manchado como o vosso, e tão inconstante, que havia de tirar-lhe a glória ou perdê-la; se ela, entretanto, quiser habitar em vós para receber seu Filho, pode-o facilmente, em vista do domínio que tem sobre os corações; e, por ela, seu Filho será bem recebido, sem mancha, e sem perigo de ser ultrajado: “Deus in medio eius non commovebitur” (Sl 45, 6). Dir-lhe-eis confidentemente que tudo que lhe tendes dado de vossos bens é pouco para honrá-la, mas pela santa comunhão, lhe dareis o mesmo presente que o Pai eterno lhe deu, presente que mais há de honrá-la, que se lhe désseis todos os bens do mundo; e que, enfim, Jesus deseja ainda ter nela suas complacências e seu repouso, seja, embora, em vossa alma, mais suja e pobre do que o estábulo ao qual Jesus não opôs dificuldades em descer, pois que ela lá estava. Com as seguintes e ternas palavras lhe pedireis seu coração: “Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, o Maria!”. - "Recebo-te em troca de tudo o que possuo. Dai-me vosso Coração, ó Maria!" 
        Durante a Comunhão - Prestes a receber Nosso Senhor Jesus Cristo, dir-lhe-eis três vezes, depois do “Pai Nosso”: “Senhor, eu não sou digno. . . “ etc., como se dissésseis, pela primeira vez, ao Pai eterno que, devido a vossos maus pensamentos e ingratidões para com Ele, não sois digno de receber seu único Filho. Eis, porém, Maria, sua serva: “Ecce ancilla Domini”, que tudo faz por vós, e que vos dá uma confiança e esperança especiais, junto de sua Majestade.     
        Direis a Deus Filho: “Senhor, eu não sou digno...” etc., que não sois digno de recebê-Lo, por causa de vossas palavras inúteis e más, e vossa infidelidade em seu serviço; vós lhe rogais, entretanto, que tenha piedade de vós, pois que ides introduzi-lo na morada de sua própria Mãe e vossa, e que não o deixareis partir, sem que Ele venha aí alojar-se. Implorar-lhe-eis que se levante e venha para o lugar de seu repouso e para a arca de sua santificação. Dir-lhe-eis que, de modo algum, depositais vossa confiança em vossos méritos, vossa força e vossas preparações, como Esaú, e sim nos de Maria, vossa querida Mãe, a exemplo do pequeno Jacob nos desvelos de Rebeca; que, pecador que sois, ousais aproximar-vos de sua santidade, ornado e apoiado pelas virtudes de sua Mãe Santíssima.
        Direis ao Espírito Santo: “Senhor, eu não sou digno”, etc.; que não sois digno de receber a obra-prima de sua caridade, em vista da tibieza e iniqüidade de vossas ações e de vossas resistências a suas inspirações. Mas toda a vossa confiança é Maria, sua fiel Esposa. E lhe direis com São Bernardo:  Haec mea maxima fiducia est, haec tota ratio spei meae. (Eis a minha maior confiança e toda razão da minha esperança). 
        Depois da Santa Comunhão - Inteiramente recolhido, os olhos fechados, depois da santa comunhão, introduzireis Jesus Cristo no coração de Maria. A sua Mãe o dareis, e ela o receberá amorosamente, colocá-lo-á em lugar de honra, adorá-lo-á profundamente, amá-lo-á perfeitamente, abraçá-lo-á estreitamente, e, em espírito e verdade, Lhe prestará honras que nós, cercados de espessas trevas, desconhecemos. Ou, então, jazei profundamente humilhado, na presença de Jesus residindo em Maria; ou permanecei como um escravo à porta do palácio real, onde o Rei se entretém com a Rainha; e, enquanto eles conversam sem necessidade de vossa presença, ide em espírito ao céu e a toda a terra rogar às criaturas que em vosso lugar agradeçam, adorem e amem a Jesus e Maria:  “Venite, adoremus, venite!” (S1 94, 6).
        Ou, ainda, pedi a Jesus, em união com Maria, que, por meio dela venha à terra o seu reino, ou a divina sabedoria, ou o amor divino, ou o perdão de vossos pecados, ou qualquer outra graça, mas sempre por Maria e em Maria. E, considerando-vos a vós mesmo, dizei: “Senhor, não olheis os meus pecados, mas que vossos olhos só vejam em mim as virtudes e graças de Maria.”
        E, lembrando-vos de vossos pecados, acrescentareis: Eu, que sou o meu maior inimigo, cometi esses pecados; ou, então: Meu Jesus, é preciso que cresçais em minha alma e que eu diminua. Maria, é preciso que cresçais em mim e que eu seja menos do que tenho sido. Oh Jesus e Maria, crescei em mim e multiplicai-vos fora, nos outros.
        São infinidade os pensamentos que o Espírito Santo fornece, e vos fornecerá se fordes bastante interior, mortificado e fiel a esta grande e sublime devoção, que acabo de ensinar-vos. Lembrai-vos que, quanto mais deixardes Maria agir em vossa comunhão, mais será Jesus glorificado; e tanto mais deixareis agir Maria para Jesus, e Jesus em Maria, quanto mais profundamente vos humilhardes, e, então, os ouvireis em paz e silêncio, sem vos afligirdes para ver, degustar, nem sentir, pois, em toda parte, o justo vive da fé, e especialmente na santa comunhão, que é um ato de fé." 
       
         Resta advertir, com o Padre Lhomeau, que não é necessário nem mesmo conveniente fazer uso em uma mesma Comunhão de todos os sentimentos e afetos que aqui indica o Santo. Segundo o estado da alma, poderemos excitar-nos em algum deles, ou em outros semelhantes, conforme a devoção que tenhamos. O que importa é que, de uma ou outra maneira, procuremos agir por Maria, com Maria, em Maria e para Maria.
        Esforçava-me eu um dia, em fazer entender um pouco ao menos desta prática, a uma pobre menina de muito pouca compreensão. Ela, então, inspirada sem dúvida pela Santíssima Virgem, me deu uma lição inesperada.
        Perguntei-lhe que faria a fim de preparar-se para comungar em companhia de Nossa Senhora. Como resposta, ela começou a rezar a Ave Maria, coisa que eu nem pensara em aconselhar-lhe, e que talvez parecerá inoportuna. A meditação, porém, descobre formosas relações entre a Ave Maria e a comunhão. E o Pai Celeste, que oculta estas coisas aos sábios e as revela aos pequeninos, fez talvez com que de alguma maneira aquela alma simples as vislumbrasse nessa ocasião.
        A Ave Maria é a preparação para o mistério da Encarnação, e a Encarnação foi para a Santíssima Virgem de algum modo parecida com o que é a Comunhão para nós. Nosso Senhor aconselhou a Santa Margarida Alacoque que se preparasse para comungar revestindo-se das disposições que teve Nossa Senhora no momento da Encarnação. A Ave Maria nos recorda essas disposições, com as quais podemos comparar as nossas, da mesma forma que o fizermos na meditação do terceiro dia da primeira semana (semana para adquirir o conhecimento de si mesmo).
        Um Religioso, pessoa contemplativa, nos disse também que, com muito fruto, costumava dar graças a Deus depois da Missa rezando vocalmente o Terço e contemplando seus mistérios em relação com a Sagrada Eucaristia. Prática semelhante a esta aplica um companheiro nosso, mestre na arte de dirigir na vida espiritual os meninos. E foi o único meio com que conseguiu que seus congregados não se distraíssem na preparação e ação de graças para a Comunhão. Com simples explicações repetidas praticamente durante alguns dias, depois da Comunhão, conseguiu que memorizassem nos mistérios do terço e nas palavras do Pai Nosso e da Ave Maria certas reflexões e propósitos muito próprios para o ato da Comunhão. Com eles, tinham sempre uma fórmula constante e variada que os ajudava a não se distraírem e com a qual não se cansavam. Tudo isto parece bem conforme ao espírito de São Luís Maria Grignion de Montfort. 
        Há pessoas rudes de quem não se pode esperar facilmente que façam coisa mais proveitosa. A elas, poderia se recomendar que rezassem o terço para pedirem a Nossa Senhora que supra seus defeitos, e que diga a Jesus o que elas não conseguem dizer-Lhe.
        "Quão formosa é a Comunhão feita em companhia da Mãe celeste! Ontem, 8 de maio, fiz pela primeira vez. E sabe, V. Revma., a que se reduziram os suspiros do meu coração naquele momento? Pois só a estas palavras: Minha Mãe!"
        Assim dizia a seu pai espiritual a seráfica virgem Gemma Galgani. 
        Quem, para imitar melhor a Nossa Senhora, quiser ver como Ela mesma Se preparava e dava graças, leia Maria Santíssima, Mística Cidade de Deus, da V. Maria de Ágreda.

        - Missa
        O mesmo método de rezar o Terço que acabamos de explicar para a Comunhão pode também servir para a Missa. Convém, porém ,durante ela, meditar nos mistérios dolorosos, já que o sacrifício do Altar é o mesmo do Calvário. Recordemos o que Cristo Nosso Senhor disse a Santa Margarida: "Para ouvir Missa são convenientes as mesma disposições que teve a Santíssima Virgem ao pé da Cruz." (Tudo o que aqui for citado, neste assunto da Missa, entre aspas, é retirado dos escritos do Padre Lhomeau.) 
        Transportemo-nos em espírito ao Calvário. E, enquanto o sacerdote se paramenta, preparemo-nos para assistir o santo sacrifício, mas sempre em companhia de Nossa Senhora. Se tivermos um missal, ou outro meio de acompanhar o que diz o Sacerdote, será melhor segui-lo. Para renovar a união com Maria, aproveitemos as ocasiões que a mesma liturgia nos proporciona. Apontaremos aqui algumas, para auxiliar os fiéis e os mesmos sacerdotes. Recordando-as em algum momento do Sacrifício, talvez os ajude a terem mais devoção. 
        No salmo Judica, reconheceremos nossa indignidade para aproximar-nos do tremendo sacrifício, e a confiança que nos inspira o fazê-lo por Maria, pois por Ela Deus alegra a nossa juventude. Sim, os devotos de Nossa Senhor devem estar sempre cheios de juventude espiritual. Pediremos ao Senhor que envie a Sua Luz e a Sua verdade para nos guiar ao Seu monte santo, e a Seus tabernáculos, símbolos também de Maria.
        No Confiteor, pediremos perdão de nossas faltas, recordando as do dia anterior e invocando também com a Igreja a bem-aventurada sempre Virgem Maria. Estes afetos de contrição e confiança poderão continuar durante o Introito e o Kyrie, caso não nos desperte devoção o interrompê-los para nos entregarmos aos afetos que nos sugere a leitura.
        O Gloria in excelsis é um eco do Magnificat. Revistamo-nos do espírito de Maria para cantarmos as glórias de Deus. Maria é o Altar de Deus, onde Cristo Se imola. Cada vez que o Sacerdote beija o Altar material que no-la representa e que, voltado para o povo, lhe dá a paz e o prepara para a oração, beijemos também em espírito os pés de Nossa Senhora. E unamo-nos a Ela para pedir o que pede a Igreja, pela boca de seu Ministro.
        Durante a Epístola, escutemos com Maria os ensinamentos dos Profetas e dos Apóstolos. Assistamos, com Ela, durante o Evangelho, à pregação de Jesus Cristo; e com Ela "guardemos Suas palavras conferindo-as em nosso coração". Ao Credo, confessemos nossa fé, conservando-nos de pé diante de todos e junto à Cruz, como a Virgem no Calvário.
        "Com o Ofertório, começa o Sacrifício. Recordai a secreta oblação que Jesus fez no seio de Maria, ao vir ao mundo, e logo a Sua oferta pública, nas mãos da mesma Maria, no Templo. Era, de certa forma, o Ofertório de uma Missa solene que foi a vida de Cristo; cuja imolação na Cruz parece como que a Consagração e a Elevação. A patena de ouro se assemelha de algum modo a Maria, trono áureo de Jesus que repousa em Seus braços e que por Suas mãos quer Se oferecer. Nelas devemos colocar-nos, para sermos oferecidos com Ele... Mistura logo o Sacerdote, no cálice, água e vinho, para simbolizar a união da natureza divina e da natureza humana em Jesus Cristo; e a união dos fiéis com Ele. E, como pedir com a Igreja o "participar da divindade dAquele que Se dignou tomar a nossa humanidade", sem pensar em Maria, a Mãe do povo regenerado que forma a Igreja, e em Quem e por Quem este mistério se realizou?"
        Ao oferecer o cálice, pede o sacerdote que o Senhor receba sua oferta com suave odor. Unamos a essa oferta a nossa que adquirirá, sem dúvida, suave aroma, ao passar pelas mãos de Maria. Ela nos ensinará a oferecê-la com o espírito  de humildade e coração contrito que se diz na oração seguinte: "Logo, elevando as mãos, o sacerdote invoca o Espírito Santo para que transforme o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo, como em outro tempo O formou no seio de Maria. Assim também, com o concurso de Sua Esposa fiel, no Altar de nosso coração, consumirá com o fogo da Caridade nossa própria vida, para que Jesus viva em nós."
        Ao lavabo, peçamos a Nossa Senhora que nos purifique até das manchas mais insignificantes, para que participemos com menos indignidade dos augustíssimos mistérios. Esse salmo contém doces afetos para a alma acostumada a viver em Maria, a qual verá nEla facilmente a casa de Deus, cuja formosura ama e onde firmou, com segurança, seu pé.
        Na oração seguinte, o mesmo sacerdote nos recorda uma ideia que nos é muito grata, isto é, que a Missa não é só "em memória da Paixão, Ressurreição e Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo", mas também "em honra da bem-aventurada Virgem Maria". 
        Depois do Orate fratres, "oremos em silêncio com o sacerdote. Esta oração é uma das ideias acariciadas, por São Luís Maria Grignion de Montfort, que nos recomenda que digamos amém a tudo o que Maria faz no Céu. Embora não entendamos o que a Igreja e Maria pede a Deus nessa oração, associemo-nos confiadamente a ela."
        "Chegamos ao  Prefácio, cântico de ação de graças e de júbilo. Ó divina Maria, que vossa alma esteja em mim para louvar ao Senhor e vosso espírito, para regozijar-me em meu Salvador. Sim, porque sobre as celestes hierarquias que tremem de respeito, de adoração e de amor, apareceis vós, Senhora dos coros celestiais, a fim de os dirigirdes a Cristo. Nós, viandantes ainda, elevamos a vós nossos olhares e nossos corações. Vós sois o Caminho reto, por onde nossas orações sobem a Deus, para render-lhe justas e dignas ações de graças. Sursum corda! 
        Adoremos a Deus três vezes Santo, com o profundo respeito e aniquilamento de Sua Escrava, cuja alma mais que o céu e a terra, está cheia de Sua glória. Hosana ao Deus que nEla vive!
        "A partir desse instante, a alma está penetrada pelas recordações do Calvário. É preciso, então, ajoelhar-se, diante do Altar, em companhia da Mãe de Jesus... Aprendamos dEla a olhar  a santa Vítima; a compreender o que se passa à nossa vista; a oferecer-nos com Cristo; a permanecer de pé, junto à Cruz". Enquanto o Sacerdote ora em silêncio, façamos também nós um memorial de nossas petições, a fim de as apresentarmos, pelas mãos da Rainha, ao Rei que já desceu ao humilde trono do Altar.
        "Pouco antes da Consagração, o Sacerdote estende as mãos sobre a hóstia e o cálice, para oferecer a oblação a Deus, nosso Soberano Senhor, em homenagem de servidão. É esse o espírito da santa escravidão, que se encontra nos fundamentos da Religião e no primeiro fim do Sacrifício. Viver habitualmente nesse espírito é excelente disposição para ouvir Missa."
        A lei antiga mandava que o Sacerdote colocasse as mãos sobre as vítimas, significando que sobre elas atirava os pecados do povo. Isso nos representa hoje ao vivo o Divino Cordeiro, imolado por nós, na nova lei. Essa mesma ação, (em que o Sacerdote de hoje coloca as mãos sobre o que vai converter no Corpo e Sangue de Jesus Cristo), nos convida a pedir à Rainha dos sacerdotes que coloque também Suas mãos sobre nós, pois queremos ser Suas vítimas, conforme o que pede a nossa perfeita consagração.
        Com este espírito de vítimas, adoremos a Jesus-Vítima, que Se levanta nas mãos do sacerdote, como Se levantava nas de Maria, quer quando em pequenino Ela o erguia no presépio, quer quando já morto, O sustentava em Seus braços.
        " A separação do pão e do vinho nos representa a do Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Com que olhos e com que pensamentos terá visto a Virgem operar-se essa separação na Cruz! Com que dor veria correr, pouco a pouco, do Corpo alquebrado de Seu Filho, o Sangue preciosíssimo! Digne-Se Ela aplicar-nos o fruto dessa imolação!"
        Enquanto o Sacerdote apresenta ao Eterno Pai a Hóstia pura, santa e imaculada, apresentemos também o nosso sacrifício unido ao de nosso amor, Jesus. Renovemos a escravidão, por mãos de Nossa Senhora, fazendo propósito de portar-nos, durante o dia, como verdadeiros servos de Cristo e como vítimas que com Ele se oferecem pela glória de Deus e salvação das almas.
        Ao memento, imploremos a intercessão da Rainha do Purgatório por nossos queridos defuntos, cujos nomes apresentaremos a Cristo, por Suas mãos.
        "Roguemos enfim, por nós, pecadores, apoiando-nos não em nossos méritos, mas na divina misericórdia. Nossos méritos e o valor de nossas obras os abandonamos nas mãos de Maria, mas contamos com Ela, para obter parte abundante dessa misericórdia e entrar na glória dos Santos.
        Esta oração termina com aquelas palavras de que Se formou a fórmula de nossa vida mariana: Por Cristo, com Ele e nEle - "Por Ele (Jesus Cristo), com Ele e nEle, a vós, Deus Pai onipotente, pertence e é dada toda a honra e glória, com o Espírito Santo". Regozijemo-nos ao pensar que isto se faz do modo mais perfeito e seguro, por Maria, com Maria e em Maria."
        Rezemos, com Maria, o Pai nosso, e Ela nos ensinará a penetrar-lhe o sentido. Peçamos depois, por Sua intercessão, como o faz a Igreja, que nos livre o Senhor de todos os males e nos dê a Paz.
        "Nesta oração, o sacerdote beija a patena, instrumento de paz, porque recebe o Corpo de Jesus Cristo, Autor da Paz. E nisso a patena simboliza Maria, que não só recebeu a Cristo e O fez morar nEla, como também Lhe deu o Corpo."
        Depois nos prepararemos para a Comunhão sacramental ou espiritual e daremos graças conforme o método já indicado.
        "O Placeat tibi Sancta Trinitas é quase a oração de São Luís Maria Grignion de Montfort, na fórmula de  consagração. Recebei esta pequena oferta de minha escravidão... Assim, até o fim da Missa, as palavras da liturgia avivam em nós o espírito da consagração. Passe também, por Maria, esta homenagem filial. E, quando chegar o fim de nossa vida que, em união com Cristo Crucificado, deve ser uma longa Missa, uma verdadeira imolação, roguemos à Santíssima Trindade que receba, em homenagem de adoração e dependência, o último ato que consome o sacrifício."
        Recebamos, por fim, a bênção do Ministro de Deus, procurando imitar o espírito com que a Virgem receberia a bênção de Jesus Cristo. Levantamo-nos com ânimo, para cumprirmos os nossos deveres, depois de ouvir o Evangelho de São João, que nos deixa com a doce recordação da vida de Jesus em Maria. "O Verbo Se fez Carne e habitou entre nós"  - "Ó Jesus, que viveis em Maria, vinde viver conosco".

            - Visitas ao Santíssimo Sacramento
        Apliquemos nelas a Comunhão espiritual, com o mesmo método seguido para a sacramental, ou então, renovemos os atos que propusemos para o oferecimento de obras. Examinemos, além disso, como cumprimos os nossos deveres de escravos desde a última visita, ou desde a última vez que nos examinamos.

        - O Rosário 
        "Rogo-vos insistentemente, pelo amor que vos consagro em Jesus e Maria, que não vos contenteis em recitar a coroinha da Santíssima Virgem, mas também o vosso terço e até, se houver tempo, o vosso rosário, todos os dias. E abençoareis na hora da morte o dia a e hora em que me acreditastes."
        Ninguém estranhará que assim fale São Luís Maria Grignion de Montfort, na Verdadeira Devoção, "quinta prática", tratando-se  de uma devoção tão própria dos escravos. Para tirar dela abundante fruto, muito nos ajudará o método que dele mesmo vamos copiar. Não pretendemos que seja seguido tal qual é. É de grande importância que não se perca o santo costume de rezar o terço em família. Para isso, deveria se sacrificar até o maior fruto que se pensasse obter, rezando-o particularmente. Poderá cada um, pois, seguir a fórmula tradicional em sua família, e recordar só mentalmente o fruto de cada mistério que nos propõe São Luís Maria Grignion de Montfort, uma vez que isto é o substancial do método. O rezar o Credo e outras orações, no começo ou no fim, pouco importa. 


        - Guarda de honra reparadora e Via Sacra
        A Virgem Santíssima manifestou muitas vezes Seu desejo de que Seus escravos a acompanhem, em Suas dores. E parece até que Se compraz especialmente quando se Lhe faz companhia de algum modo das 12 às 15 horas, nessas três horas que passou ao pé da Cruz, para honrar os sofrimentos, a grandeza e o poder de Seu Coração Imaculado. O melhor modo de a acompanharmos será o evitar nessas três horas toda espécie de faltas.
        Um dos meios mais excelentes, para acompanhar a Virgem Santíssima em Suas dores é o santo exercício da Via-Sacra. O Padre Lombaerde nos propõe o seguinte método para seguirmos as estações da Via Sacra em companhia de Nossa Senhora. É um método breve e com o qual lucramos muitas indulgências. (Além das indulgências da Via Sacra, teremos as das jaculatórias.)

        Primeira Estação - Meu Jesus, condenado à morte em meu lugar, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, alcançando-me contrição e aborrecimento do pecado.
        Segunda Estação - Meu Jesus, carregado com a Cruz, por meus pecados, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, preservando-me de toda a culpa.
        Terceira Estação - Meu Jesus, que caís sob o peso de meus pecados, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, dando-me vitória sobre minhas paixões.
        Quarta Estação - Meu Jesus, que encontrais vossa desolada Mãe, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, não permitindo que me separa nem um momento de vós. 
        Quinta Estação - Meu Jesus, ajudado a levar a Cruz, pelo Cireneu, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, alcançando-me força, para levar minha cruz no seguimento de Jesus.
        Sexta Estação - Meu Jesus, que imprimiste vossa Face na toalha de Verônica, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, gravando na minha alma a lembrança de Jesus.
      Sétima Estação - Meu Jesus, que caís segunda vez sob o peso da Cruz, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação,  levantando-me se tiver a desgraça de cair.
    Oitava Estação - Meu Jesus, que consolais as filhas de Jerusalém que vos seguem, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, consolando-me em minhas penas e fazendo que me santifiquem. 
        Nona Estação - Meu Jesus, que caís terceira vez sob o peso de meus pecados, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, fazendo-me voltar ao meu dever, quando dele me desviar.
      Décima Estação - Meu Jesus, despojado de vossas vestes, para expiar minha sensualidade, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, despojando-me do homem velho e de suas más inclinações.
        Décima primeira Estação - Meu Jesus, cravado na Cruz por meu amor, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, purificando-me no sangue de Jesus, por mim derramado.
        Décima segunda Estação - Meu Jesus, morto na Cruz, para me abrir o céu, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, aplicando-me os méritos da Redenção.
        Décima Terceira Estação - Meu Jesus, morto e depositado nos braços de vossa dolorosa Mãe, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, deixando-me morrer em vossos braços. 
     Décima quarta Estação - Meu Jesus, encerrado no sepulcro e agora no Tabernáculo, misericórdia! Doce Coração de Maria, sede a minha salvação, encerrando-me junto a Jesus, no Seu cárcere de amor.


        - Durante o dia
        Aproveitaremos todo o tempo possível para tratarmos com nossa Mãe e Senhora. É verdade que nos vê e nos ouve e que, se a quisermos escutar, ouviremos de alguma forma Sua dulcíssima voz no fundo do nosso coração. Imaginaremos, pois, que a temos junto a nós, e procederemos então como a criança que, em tudo, recorre à sua mãe.
        Durante o trabalho, imaginemo-nos a Seu lado, na oficina de Nazaré.
        M. Monnin narra um fato da vida do Cura d'Ars que nos pode ajudar. Esse santo, São João Maria Vianney, na idade de 12 ou 13 anos, auxiliava nos trabalhos do campo o seu irmão mais velho. Sendo ele, porém, mais fraco que seu companheiro, cansava-se muito e não o podia acompanhar na tarefa. Lembrou-se, entretanto, um dia de levar consigo ao campo uma imagenzinha de Nossa Senhora à qual dedicava especial carinho. Colocou-A a certa distância com a ideia de chegar logo aos pés de Sua querida Senhora. E assim trabalhou sem se cansar e muito mais depressa. Chegando ao lugar onde Ela estava, retirava-a para mais longe, e, com novo vigor, retornava a seu trabalho. Com esta piedosa indústria, trabalhava sem se cansar o dia inteiro.
        Uma piedosa cozinheira atribuía seus bons êxitos na profissão à Santíssima Virgem. É que tinha diante de si uma imagem dessa boa Mãe, a Quem consultava candidamente sobre os condimentos de que devia servir-se.
        Quantas vezes, com procedimentos semelhantes experimentamos o auxílio de Nossa Senhora em nossos estudos e trabalhos! O Sr. Olier dizia que não podia aprender nada senão à força de Ave Marias. E o Santo de Montfort aconselhava um seu irmãozinho que, se quisesse ser o primeiro da clase, depositasse sempre seu estudo nas mãos de Maria. 
        Nos curtos intervalos do trabalho, descansemos como o fariam Jesus e José, dirigindo um olhar ardente de amor à nossa Mãe. À hora das refeições, imaginemos que está conosco à mesa. Perguntemos-lhe, como crianças, o que havemos de comer e o que havemos de deixar. Se sentirmos repugnâncias por um prato, comamos dele, porque Ela no-lo dá. Se temos excessiva afeição a outro, deixemo-lo, porque Ela no-lo pede. Nas nossas palestras com outras pessoas, perguntemos-lhe de vez em quando se lhe agrada a nossa conversa e como devemos responder às perguntas que nos fazem. E depois, quando ficarmos a sós com Ela, tornemos a perguntar-lhe se a desagradamos em alguma coisa que dissemos ou ouvimos.
        Como seria belo, iniciarmos as nossas conversas com a saudação-jaculatória: "Ave Maria Puríssima, concebida sem pecado" - tão enriquecida de indulgências.
        O Padres Redentoristas costumam começar suas recreações com uma Ave Maria, a que chamam de caridade, pois é com o fim de não faltarem, durante esse tempo, a essa formosa virtude. Nas suas "Conferências às Religiosas de vida ativa", Costamagna atribui a isso o terem eles algo de celestial. 
        Em artigo belíssimo, o Padre Lombaerde nos descreve o passeio que costuma dar ao cair da tarde em companhia da Santíssima Virgem. Vai-lhe contando seus pesares e alegrias, e com Ela, descansando. É como se Ela se apoiasse em seu braço e ele deixasse cair sua fatigada cabeça sobre o coração materno, como o fazem os filhos com suas mães.
        Quando nos dirigimos sozinhos de um lugar a outro, ou temos de ficar forçosamente alguns momentos sem ocupação, descansemos com Ela. Uma pessoa, viva e irrequieta, se afligia muito quando tinha de esperar algum tempo por alguém. Depois que se acostumou à santa escravidão, desejava estes momentinhos livres para descansar docemente e sem aborrecimento algum com sua Senhora.
        Quando o intervalo de descanso é muito breve, basta uma jaculatória, uma aspiração interior, um olhar da alma.
        Para auxiliar este exercício, apresentemos aqui algumas jaculatórias recolhidas da Sagrada Escritura e dos Santos. Outras poderão ser encontradas em várias partes desta obra. Mas as melhores para excitar a devoção, são as que mais espontaneamente brotam da alma.

        - Jaculatórias próprias dos Escravos
        "Eis aqui a escrava do Senhor"
         "Ó Senhor,  eis  que eu sou teu servo e filho de tua Escrava."
        "Salva, Senhor, o filho de tua Escrava."
        "Sou para minha mãe, como um filho pequenino e único."
        "A minha alma engrandece ao Senhor."
        "Sou todo de Jesus por Maria. Renuncio a mim mesmo e me entrego a vós, ó minha Mãe amada. Sou todo teu e tudo o que me pertence é teu."
        Outras jaculatórias do Santo podem tirar-se dos Cantares e orações que se encontram adiante.
        "Ó Jesus, que viveis em Maria, vinde e vivei em nós"
        "Jesus, Maria, meus dulcíssimos amores, que seja eu todo vosso e nada meu, como se não tivesse ser."

        
        - Exame da noite/ Confissão
        Recordemos aos pés de Nossa Senhora as faltas cometidas  durante o dia, os atos de virtude que deixamos de praticar, as ocasiões e as raízes de nossos defeitos. Peçamos-lhe perdão de a termos deixado tantas vezes para ir atrás das criaturas, ou para agradarmos a nós mesmos. Proponhamos depois séria emenda para o dia seguinte. Recordemos o que já se disse ao tratar do exame particular.
        O mesmo faremos quando nos prepararmos para a confissão.
        "Muitas almas piedosas, - diz Monsenhor Gay - , encontram eficaz motivo de contrição ao pensarem nas lágrimas que o pecado fez a Santíssima Virgem derramar. Ninguém, depois de Jesus, as derramou tantas e tão amargas, porque ninguém entrou como Ela no mistério da Redenção. Certamente o haver feito chorar assim uma criatura tão santa, inocente e boa, como é a Mãe de Jesus e nossa, é para consumir de dor as almas que têm a graça de sentir o que Ela é." 
        Será necessário apenas recomendar aos escravos de Nossa Senhora que no meio desta dor tenham paz; porque vivendo com Maria, apenas se concebe perturbação e desconfiança. Devem ir confessar-se tranquilamente pois se prepararam aos pés de Nossa Senhora, é impossível que lhes falte luz, para conhecer suas faltar e dor para detestá-las, embora isto não seja sensível. 


        - Devoções recomendadas aos escravos de Nossa Senhora
        Como é natural, São Luís de Montfort recomenda especialmente a Ave Maria e o Magnificat. Destas duas maravilhosas orações nada diremos aqui, pois tencionamos falar mais detalhadamente em outros livros.
        Da coroinha de Nossa Senhora diz, na segunda prática do Tratado da Verdadeira Devoção: Recitarão todos os dias de sua vida sem, entretanto, nenhum constrangimento, a coroinha da Santíssima Virgem, composta de três Pai nossos e doze Ave Marias, em honra dos doze privilégios e grandezas de Maria. Esta prática é muito antiga e tem seu fundamento na Sagrada Escritura. São João viu uma Mulher coroado de doze estrelas vestida de sol e tendo a lua debaixo de seus pés. E esta Mulher, na opinião dos intérpretes, é Maria. Há muitos modos de rezar bem esta coroinha e seria demasiado longo mencioná-los. O Espírito Santo o inspirará àqueles e àquelas que mais fiéis se mostram a essa devoção. Pode ser recitada mais simplesmente assim: Dignare me laudare te, Virgo Sacrata, da mihi virtutem contra hostes tuos. Em seguida um Credo e depois Pai nosso, quatro Ave Marias, Glória - três vezes, o que completará as doze Ave Marias da coroazinha. No fim, "A vossa proteção...".
        Entre os hinos da Igreja, recomenda São Luís Maria Grignion de Montfort o Ave Maris Stella, que contém afetos muito próprios, para os que se consagram à Santíssima Virgem. A venerável Rocaberti nos promete da parte de Nossa Senhora que neste hino rezado com fervor encontraremos consolo nas melancolias, e remédio contra as faltas, especialmente na estrofe: "Solve vincla reis". 
        Recomendamos também aos escravos de Nossa Senhora os escapulários. Eles são sinais de nossa consagração a Maria, escolhidos por Ela mesma. Entre esses escapulários, são recomendados especialmente o de Nossa Senhora do Carmo e o da Imaculada (azul), por suas muitas indulgências e privilégios. Recomenda-se também o do Coração de Jesus e da Virgem da Misericórdia, pelo desejo que a Virgem manifestou de vê-lo no peito de todos os devotos, e por representar unidas as duas devoções a Maria e ao Sagrado Coração, coisa tão própria de nossa escravidão.
        Finalmente, esta nossa íntima e afetuosa devoção à Santíssima Virgem está logicamente unida, não só à devoção ao Sagrado Coração de Jesus, mas também ao amor e contínuo desejo do Espírito Santo. Muitas vezes e com insistência o recomenda o Santo de Montfort, pois, como ele disse, da união do Divino Espírito Santo com Maria, se formará Jesus Cristo em nossos corações.
        O Escravo de Maria não deixará de ser menos devoto também de São José, a quem considera como o chefe de casa. Terá grande devoção também a todos os Anjos, especialmente ao seu Anjo da Guarda que tantas vezes o põe em comunicação com Nossa Senhora e sua Rainha.
        

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