Já sabemos que o caminho para ir a Jesus é Maria.
Resta - diz São Bernardo - que por Ela subamos à graça dAquele que, por Ela, baixou até nossa miséria.
Os ascetas explicam que há nesta subida três degraus ou vias. Consideremos neles nossa Mãe como caminho para irmos ao Coração de Seu Filho. Assim no-lo ensina Santo Anselmo de Luca, comentando as últimas palavras da Salve Rainha: "Ó Clementíssima para os penitentes; doce para os contemplativos! Ó Clemente, livrando; piedosa, distribuindo (as graças do teu Filho); doce, dando-te. Clemente, consolando; piedosa, aconselhando; doce, acariciando!"; "É clemente para com os pecadores arrependidos pois, livrando-os de seus pecados, os consola e leva pela mão, aos pés de Jesus Cristo."
Sob o cajado da Divina Pastora não só descansam os imaculados cordeirinhos, cena em que os pintores a representam, mas também os rebeldes cabritos, com que a Sagrada Escritura representa os que vivem em pecado. Apascenta os teus cabritos, disse o Amado à Esposa dos cantares. E se Cristo é o Pastor e Maria, sua Esposa, não é sem razão que os intérpretes do livro sagrado veem figurados os pecadores sob a alegoria deste mau rebanho. E dizem que Santa Gertrudes viu, sob o manto de Maria, não só cabritos, mas também bestas e imundas feras. É para mostrar que, sob esse manto puríssimo, os tigres ficam como cordeiros, e as serpentes como pombas; assim sob o casulo da seda a imunda larva se transforma em dourada borboleta.
Se quiserdes converter os pecadores, começai por trazê-los a Maria, que logo se encarregará de os levar a Jesus. Abri senão a vida dos santos e vereis quantos pecadores por um olhar de misericórdia de Maria, por um suave chamado da formosíssima Pastora, se converteram em fervorosos adoradores de Jesus: Maria do Egito, Franco de Sena, André Corsino, Pedro Keriolet, Inácio de Loyola... Quem os poderá contar? Folheai as revistas marianas e encontrareis, quase todos os meses, a notícia de alguma maravilhosa conversão devida à medalha, aceita talvez por compromisso, às três Ave Marias, rezadas para cumprir uma promessa, à saúde do corpo recuperada por manifesta intervenção de Nossa Senhora. E se vós, ministros do Senhor, vos sentais no tribunal da penitência, e tendes o costume de examinar as almas acerca de sua devoção à Santíssima Virgem, quão facilmente conhecereis que Ela é o caminho para levar as ovelhas desgarradas ao redil do Bom Pastor e para conservá-las junto a Ele, livres das traições do lobo infernal. Recordai, enfim, a vossa própria história. Se alguma vez vivestes em trevas, não vos alumiou como aurora o amor e confiança em Maria, antes de amanhecer em vossa alma o sol da graça? E sabemos quão depressa perde a Jesus aquele que não está com Maria! Com muita razão dizia o Beato João de Ávila: "Mais quisera estar sem pele, que sem devoção a Nossa Senhora."
Não é necessário citar a tradição da Igreja, para confirmar esta doutrina. Não há Santo Padre que não chame a Santíssima Virgem Rainha e Mãe de Misericórdia, Advogada dos pecadores, ou ainda Ester, com quem Assuero repartiu seu império, dando-lhe a metade que representava a misericórdia. Todos eles se comprazem em referir exemplos que provam o poder da intercessão de Maria, para reconciliar as almas com Jesus Cristo.
Pia proficientibus - Como piedosa Mãe e diretora espiritual, Maria Santíssima vai levando pela mão os que se adiantam na virtude, até transformá-los em Cristo.
Sementes deste doutrina se encontram em Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Pedro Damião, Adão de Persênia, São Boaventura, e naquele conhecido fragmento de São Bernardo, que parece um hino à Estrela do Mar. Em belíssimas comparações, e mais amplamente que esses santos, desenvolveram essas ideias dos Santos Padres dois devotos da Rainha dos Céus. Fale primeiro nosso clássico, Frei Diogo Murilo [12].
Pouco importa que seja apócrifo o fato a que alude. Admitimo-lo apenas como parábola:
"Toda nossa salvação consiste na verdadeira imitação de Cristo, porque, como disse o Apóstolo São Paulo, é determinação de Deus que, os que se salvarão, sejam conformes à imagem de Seu Unigênito Filho. Sucede, porém, aos que olham logo para Cristo para O reproduzir, o que sucedeu a um famoso pintor a quem o rei Abgaro mandou que copiasse esse mesmo Cristo. Tomou ele o pincel e se dispôs a iniciar o trabalho. Mas o resplendor do rosto de Cristo era tal, que o artista, deslumbrado por aquela luz, não pôde realizar o que desejava. Foi então necessário que Cristo passasse, com suas próprias mãos um lenço sobre Seu rosto e deixasse impressa nele a sua fisionomia. E assim o pintor pôde reproduzir facilmente, na tela, a imagem de Cristo. Foi este o verdadeiro retrato de Jesus, pois que foi copiado ao vivo, da figura deixada por Ele, no lenço.
Consideremos isto na matéria que estamos tratando.
Cristo, pelas próprias mãos, embora por obra da graça, imprimiu em Sua Mãe uma Imagem Sua, tão natural que jamais houve de criatura alguma cópia tão viva e tão perfeitamente acabada. A Virgem tem também seus raios e resplendores, devido a excelência de Suas virtudes. A luz, porém, é mais suave: por isso a chamamos de Lua. E assim a podemos fitar mais facilmente para imitá-la. Aquele que a imitar com perfeição, terá reproduzido Cristo. E isso com tanta facilidade que até o mais difícil se lhe tornará agradável, encontrando mesmo gosto, pois o pensar em Maria, que é toda doçura e suavidade produz sempre esse efeito."
Por uma comparação semelhante, São Luís Maria Grignion de Montfort nos convida a uma espécie de imitação, mais fácil e perfeita.
"Um escultor pode fazer uma estátua de dois modos: servindo-se de sua arte, força e ciência, e de seus artifícios, para reproduzir o modelo, em matéria bruta e informe; ou então, pode servir-se de uma fôrma.
O primeiro processo está sujeito a muitos acidentes: um golpe mau dado com o cinzel ou martelo, estragará toda a obra.
O segundo, que é mais expedito, mais fácil e suave, não apresenta quase dificuldades, desde que o molde seja perfeito e represente bem o modelo, e que a matéria empregada seja maleável, isto é, não resista de modo algum à sua ação.
Maria é o grande molde de Deus, feito pelo Espírito Santo, para formar exatamente um Homem Deus, pela união hipostática, um Homem Deus, pela graça. Não falta a este molde traço algum da Divindade; o que nele for lançado e não oferecer resistência, receberá todos os traços de Jesus Cristo, verdadeiro Deus.
Oh! Quanta diferença entre uma alma formada em Jesus Cristo pelos caminhos ordinários, uma alma que, como estes escultores, se fia em sua habilidade e se apoia em sua inteligência, e uma alma maleável, desprendida, dócil às operações da graça, e que sem apoio algum sobre si mesma se lança em Maria, deixando operar nela o Espírito Santo! Quantas máculas, imperfeições, trevas e ilusões na primeira alma! Como é natural e humana! A segunda, pelo contrário, é pura, é divina, é semelhante a Jesus Cristo." [13]
Como poderemos entrar nesse molde? Explica-lo-emos adiante. Aqui citaremos poucas palavras: por meio da perfeita e habitual consagração a Jesus por Maria, explicada por Montfort, no Segredo e na Verdadeira Devoção.
Dulcis contemplantibus - Doce para os contemplativos, entregando-se a eles, acariciando-os e fundindo-os no amor de Jesus Cristo.
"Subiu para dormir,
Pela escada escondida.
E, como sem sentir,
Por fim, ficou adormecida.
Tocaram-na, então, os raios da vida."
Qual é essa escada escondida, por onde São João da Cruz nos diz que a alma sobe até gozar dos "secretos raios do Amado" e se transformar nEle?
"Escada de repouso,
Os mistérios de Cristo presenteados."
Esta escada, porém, está ainda muito alta. Quem nos dará "asas como a pomba, para voar e descansar" nela? Maria é a pomba que habita no Coração de Jesus. Quem melhor do que Ela poderá nos emprestar suas asas? "Quem me dera as asas de Maria!", exclama São Boaventura. Sem dúvida, Ela mesma o fará, se formos fiéis, em ofertar-lhe quanto temos. Poderá uma mãe, e mãe tão agradecida, negar alguma coisa a um filho que se lhe consagra verdadeiramente e lhe entrega quanto possui?
"Estando Deus em toda parte, - continua Montfort - , em todas elas, até no inferno, pode ser encontrado. Não há, porém, lugar onde a criatura o possa encontrar mais perto de si e mais ao alcance de sua fraqueza do que em Maria. Para isso, Ele desceu a Ela. Ele é sempre o Pão dos fortes e dos Anjos; em Maria, porém, é o Pão dos pequeninos. Maria foi criada para Deus. Não retém consigo as almas, pelo contrário, as arremessa para Deus, e tanto mais perfeitamente as une a Ele, quanto mais unidas estão a Ela. Tendo-se encontrado uma vez Maria, e por Maria, Jesus, e por Jesus, a Deus Pai, encontrou-se todo o bem, dizem as almas santas."
Resta, pois, concluir que, no caminho espiritual, "aquele que encontra Maria, encontra a vida, que é Jesus; encontra a salvação no Senhor", como canta a Igreja, aplicando à Mãe do Verbo o que a Escritura disse da Eterna Sabedoria. [14]
Não é de estranhar que São Germano chame Nossa Senhora "respiração dos Cristãos", indicando-nos assim que devemos viver nEla como em nossa própria atmosfera; ou como o peixe na água, na expressão de outro Santo Padre; ou ainda, como "o inseto no cálice da flor, alimentando-se do seu néctar", como lhe pedia Cristóvão de Cabrera.
Minha alma te suplica,
Fresca rosa,
A favoreças, como a pequena
Borboleta
Em ti, pousando, ela repousa.
Ó Maria!
De mim, sem ti, o que seria?
Estas série de postagens "A Jesus por Maria" foram retiradas do livro "Vida Mariana", do Pe. Nazário Perez, SJ - 1910
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Notas:
[12] Vida y Excelencias de Nuestra Señora
[13] Segredo de Maria
[14] Pv 8, 35


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